Sepp Baendereck 25 anos de Pintura: MAM, São Paulo

1 - 30 Junho 1970

DIMENSÕES DA RETROSPECTIVA DE SEPP BAENDERECK – 1946 a 1970.

Felizmente, aqui a arte da pintura continua viva, enquanto os pesquisadores e forjadores de vanguardas encanecem pela via sinuosa, batidos pela onda raivosa de renovação a qualquer preço... Nestas imagens da objetividade outra de Sepp, seu hetero-universo não emerge da Pop Art, mas compreende um ancoradouro mais amplo, onírico, de fundações mergulhadas em águas profundas: águas que informaram o surrealismo e ainda informam, nos artistas que buscam em si mesmos uma saída para esse tempo de muralhas tecnológicas, em nossa condição de bichos da terra tão pequenos, diante de uma generalizada infecção mecanizante. 

Sepp não despreza jamais o maravilhoso, chamado a interferir com seu sinal irônico ou dramático, com um ornato lírico, destituído de graça mesmo, ou no soluço de um fonema desarticulado.

Agora sintetizar é fácil, pois a curva atingiu o sincrético da imagem. Os temas da retrospectiva nascidos das áreas urbano-geográficas do país natal ao Brasil foram substituídos pelo uso e abuso das "retro-ações" na evocação dos signos que o poderiam guiar até a volta à terra de novo, nessa Evolução convergente, aquela que, na palavra de um pensador que o nosso artista estima, Teillard de Chardin, fornece "un courant d'amour (que) se répand en toute la surface et la profondeur du Monde: et ceci non pas seulement à la façon de quelque chaleur ou parfum surajoutés, mais comme une essence de fond, destinée a tout métamorphoser, tout assimiler, tout remplacer"

A essa corrente de amor pertence a obra de arte, sem a qual nenhuma explicação existe para a miserável vida que conduzimos entre nossos sonhos e amarguras, ânsias de justiça e derrocadas na barbárie e na irrisão. Arte, insólito ­­­­­achado humano.
Geraldo Ferraz