A Arte Necessária
Em certa tarde, no início dos anos 60, pendurei no meu escritório de São Paulo um estimulante óleo de Henrique Boese. Digo "estimulante" porque está provado que o trabalho pesa menos quando se vive ao lado de uma obra de arte. Depois daquele Boese, fui comprando obras de outros amigos também artistas. Vieram Vlavianos, Odriozola, Ianelli, Wesley, Tomoshige e muitos outros. E a Denison foi crescendo e as paredes também...
Não quero contar uma história, apenas lembrar aqueles momentos de pura satisfação: eu comprava os quadros porque gostava, jamais pensei em formar uma coleção. Era, digamos, uma aventura pelo interior do imaginário; espalhados ao meu prazer, os quadros eram um passeio pela ordem eterna do mundo, que consiste em sua fecunda desordem, como nos lembra Umberto Eco. Tratava-se de algo muito íntimo que o passar dos anos transformou numa mostra permanente pelos corredores da Denison. Foi então que senti ter chegado a hora de levar essa exposição a um público maior - por que não o público de um museu?
Hoje, o que as paredes do MASP exibem são uma paixão e uma necessidade. Quando digo que propaganda é coisa de artista é porque a Denison acredita realmente na arte da qual se alimenta. Os fungos dessa arte fertilizam o que podemos chamar de humus cultural, sem o qual torna-se impossível o exercício de criar; no meu caso pessoal, torna-se difícil o próprio exercício de viver.
Sepp Baendereck