Sepp Baendereck viveu intensamente e vivenciou entre muitas coisas a guerra na Europa, o pós guerra como refugiado na Áustria, a pobreza em seus primeiros momentos no Brasil, a ascensão como publicitário de sucesso durante o Milagre Econômico Brasileiro e o início de um movimento ecológico global.
Toda esta intensidade foi traduzida nas várias fases de sua carreira de artista plástico.
Sua obra é atemporal e importante para a atualidade, principalmente no que diz respeito à preservação ambiental e às riquezas naturais do Brasil, país que adotou o artista como seu cidadão.
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“Destruction is the engine of history" (Hegel)
Na minha terceira viagem à Amazônia, em dezembro de 1976, conheci os rios Araguaia e Tocantins, a Transamazônica de Marabá a Tucuruí. No mês passado, fui ao Alto Solimões. Os Ticunas, em processo de aculturação há mais de 300 anos, representam a maior nação dos índios brasileiros. Tudo bem.Em minha obra, quero mostrar as pessoas, a terra e as coisas simplesmente como se apresentam, analisa-las pelos modelos que encontro e não através da minha mente. A natureza, tanto quanto meu compromisso com a tradicional dedicação do artista de representá-la, tem para mim a maior importância, uma vez que - como diz meu amigo Krajcberg - "a imaginação humana é infinitamente mais pobre do que a pródiga criatividade da natureza (Deus)".A fotografia é um importante auxiliar da minha visão e memória. A máquina enxerga com um olho só, a minha visão é binocular, o que resulta numa interpretação dupla. O que se vê no meu quadro, portanto, é essencialmente uma dupla imagem, uma realidade duas vezes interpretada, duas vezes filtrada, duas vezes focalizada e iluminada. Não há risco de engano. É uma pintura de verdade. O que eu pinto não é fantasia.Uma tela pode levar três semanas em elaboração e, às vezes, dois meses inteiros. Este ano por exemplo, de janeiro até hoje, pintei apenas oito telas. Há dias em que trabalho das 9 da manhã até as 3 da madrugada. Há outros em que nada faço. Ser pintor é algo de mostruoso. Ninguém incentiva o artista. O meu trabalho é a minha única gratificação. Em outras palavras, a pintura me incentiva e me gratifica. Eu sou meu próprio estímulo, a pintura é a grande paixão da minha vida.Anos atrás, preocupava-me muito a repercussão do meu trabalho. É difícil explicar, mas, na medida em que, pela força do próprio caráter do meu trabalho, descubro e interpreto a objetividade da realidade, torno-me cada vez mais livre, independente. Essa minha compulsão inexplicável de pintar está hoje intimamente ligada ao mundo em que vivo há quase 30 anos, a essa Amazônia imensa, a este Brasil que amo mais do que a própria terra onde nasci. Esta é a minha ambição: Quero ser, humildemente, um repórter deste Brasil, como foram Frans Post, Debret e Rugendas. Tenho um compromisso com o Brasil.Sepp, outubro de 1977, São Paulo. -